Petista na cadeia altera jogo eleitoral, dizem analistas
Rio de Janeiro/São Paulo. A prisão de Lula, seguida pela respectiva queda nas preferências dos eleitores, como apontou, ontem, a pesquisa do Datafolha, deve continuar gerando impacto significativo no debate político sobre a viabilidade de pré-candidaturas e na formação de alianças, avaliam especialistas.
O sociólogo Alberto Almeida, do Instituto Análise de São Paulo, antecipa uma pré-campanha muito incomum. “O partido tem três meses até a campanha oficial para tentar tirar Lula da cadeia”, disse Almeida. Insistir no nome de um candidato encarcerado é visto como uma estratégia de sobrevivência.
“Em certa forma, o PT é refém do Lula”, avaliou o cientista político Paulo Moura. “A mobilização do PT em torno de Lula é muito mais uma estratégia para tentar manter sua tropa ativa para sobreviver”.
Para o cientista político Rodrigo Gallo, a ausência de Lula na disputa pode afetar outros adversários e o sistema de alianças partidárias. Ele exemplifica: “É possível que Bolsonaro perca votos, pois parte do seu eleitorado parece ser composto não necessariamente de militantes fiéis, mas sim de eleitores que votariam nele como voto contra o Lula ou o PT”. Há outros riscos para Bolsonaro. Na semana passada, o Ministério Público denunciou Bolsonaro ao STF por suposto crime de racismo.
Apesar da ameaça concreta de que Lula seja invalidado como candidato, “é muito difícil para o partido abrir mão de tamanha liderança. Nos últimos 20 anos, Lula foi o norte”, lembra Debora Messenberg, socióloga e cientista política. “Não temos plano B”, admitiu a ex-presidente Dilma Rousseff. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad não é uma unanimidade, e a eventual candidatura do ex-ministro Jaques Wagner foi ofuscada por recentes denúncias de corrupção. Sobre os rumos da legenda, o cientista Paulo Mora é pessimista: “O PT está entrando em rota de decadência”.
Diário do Nordeste