Ceará

Compra e venda de apoios por votos marca pré-campanha de pretensos candidatos no Interior

A Legislação Eleitoral fixou um teto de R$ 2,5 milhões para os gastos de uma campanha para deputado federal e de R$ 1 milhão para deputado estadual. Os valores são considerados insuficientes para quem já detém mandato parlamentar. Os políticos mais experientes estão calculando uma eleição de deputado federal com gastos próximos dos R$ 10 milhões.

Segundo alguns dos atuais legisladores cearenses, o uso da força do dinheiro, com “compra” e “venda” de apoios que podem resultar em votos, já é uma realidade, o que fará com que o Caixa Dois seja maior no pleito deste ano do que em eleições passadas, exatamente por conta da fixação do teto para as campanhas eleitorais.

Alguns deputados destacam, inclusive, que lideranças conhecidas como condutoras de votos, quando procuradas, apresentam suas condições de apoiamento que vão de obras públicas de melhorias para determinadas regiões até a explicitação da “venda” dos votos que supostamente conduzem.

Próximo de concluir o primeiro mandato como deputado estadual, o petista Elmano de Freitas afirmou que tem ouvido de colegas que existem três formas de apostas em votos no Estado. Uma delas é fundamentalmente baseada apenas no “negócio” via dinheiro. “Eles olham o resultado das eleições passadas, avaliam a quantidade de votos e potencial de transferência de vereadores e suplentes e acertam o valor”, afirmou.

É a parte de “puro negócio”. “Lembre-se que sempre existe a possibilidade de um candidato a deputado estadual fazer essa ‘negociação’ com um federal. Às vezes a liderança combina um valor com um e com o outro, e às vezes fecha com a chapa de federal e estadual juntos”, destacou.

Inevitável

Ainda segundo o petista, o pleito deste ano tende a ter um custo mais elevado por conta de candidaturas centradas no dinheiro. “Quem faz campanha baseada na ideia do dinheiro, que paga liderança, vai aumentar a despesa. Será inevitável que ocorra Caixa Dois. Por isso é tão importante uma maior fiscalização por parte do Ministério Público e da Justiça Eleitoral”, disse.

De acordo com alguns parlamentares, a descrença da população nos políticos aumentou, e aqueles que iriam votar pelas ideias e trabalhos realizados por determinados postulantes serão cobrados em dinheiro. Por conta disso, o valor da campanha deve aumentar. No entanto, para aqueles que se baseiam apenas no trabalho parlamentar e legislativo, com maior proximidade em suas bases, a tendência é que diminua.

Roberto Mesquita (PROS) apontou que há pré-candidatos querendo ingressar no Poder Legislativo sem terem histórico para avalizar suas postulações, o que faz com que seus votos sejam “comprados”. “Vemos nomes que nunca militaram na política, que nunca tiveram envolvimento político se dizendo candidatos, especialmente a deputado federal, e andam com sacolas Ceará afora fazendo negócios”, enfatizou o deputado.

Saco de dinheiro

O parlamentar também denunciou lideranças políticas que possuem acesso a frações do eleitorado e estão fazendo “negócio” com o voto desse eleitorado. “O objetivo é pegar esses candidatos novatos cujo único papel é o saco de dinheiro mesmo. Eles não têm perfil, não têm causa política, não sabem nem o que representa o mandato de deputado federal para o País”, disse.

Leonardo Araújo (MDB) afirma que a eleição de 2018 tem obrigado os pré-candidatos a se movimentarem cada vez mais pela descrença do eleitorado no homem público. Postulantes têm sido obrigados a andar cada vez mais, e a presença de pretensos candidatos tem sido mais frequente no Interior.

Para ele, não há dinheiro no mercado para arcar com as diversas despesas que uma campanha eleitoral requer. Tais despesas, conforme disse, só poderão ser observadas após o início da campanha eleitoral, com a formalização das arrecadações e gastos oficiais, através das contas de campanha. O emedebista disse desconhecer a prática de “compra” e “venda” de votos, afirmando ainda que não trabalha com negociação direta com o eleitorado, mas através de envio de emendas e recursos para prefeituras.

Imaginam

Apesar das situações em que acontecerão negociações para obter votos do eleitorado, o deputado João Jaime (DEM) acredita que a tendência é que haja menos gastos por falta de doadores. No entanto, ele ressalta que existe um acirramento grande no Interior e na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), onde parlamentares disputam apoios de lideranças locais. “As eleições deste ano serão mais disputadas que em anos anteriores, visto que existem muitos candidatos novos disputando uma vaga no Legislativo”.

Danniel Oliveira (MDB) também destacou que aquele postulante que “não tem o que mostrar de serviço prestado” tende a negociar o voto com lideranças em todo o Estado. “Ele termina procurando por isso. Mas precisamos combater esse tipo de política que só prejudica a população no longo prazo”, defendeu. Segundo informou, o acirramento maior se dá por conta daqueles pré-candidatos que ainda não têm cargo eletivo.

Sérgio Aguiar (PDT) afirmou que, na Região Norte, alguns acirramentos já começam a ser percebidos, “tendo em vista a postura de alguns pré-candidatos que não têm serviços prestados e imaginam que a força do dinheiro poderá compensar e lhe render frutos”. Para o pedetista, aqueles que acreditam que o dinheiro fará diferença no pleito deste ano estarão comprometendo suas postulações.

Diário do Nordeste