Partidos da base têm pouca participação no governo de Camilo
Prestes a oficializar uma coligação que já supera, em número de partidos – aliados contabilizam até 24 legendas -, o arco de aliança no qual foi eleito em 2014, o governador Camilo Santana (PT) tem pela frente a tarefa de equilibrar interesses diversos para garantir unidade ao bloco, mas ter tantos partidos como aliados não significa que, após a eleição, todos façam parte, na prática, do Governo do Estado. Entre as legendas que compõem a base governista no atual mandato, algumas pouco acumulam contribuições com os rumos da administração estadual, seja tentando levar pautas de seus programas para o chefe do Poder Executivo ou participando ativamente de ações da gestão. Alianças, então, acabam tendo função essencialmente eleitoral.
Em 2014, Camilo disputou a eleição com o apoio oficial de 18 partidos: PRB, PP, PDT, PT, PTB, PSL, PRTB, PHS, PMN, PTC, PV, PEN, PPL, PSD, PCdoB, PTdoB (atual Avante), SD e PROS. Neste ano, após idas e vindas de algumas legendas, tentará a reeleição sem o apoio do PROS, mas devem marchar com o governador, também, o MDB, o DEM, o PSC, o PPS, o PRP, o PR e o Podemos (ex-PTN). Há partidos que preferem ainda não falar em aliança majoritária com o PT até a realização da convenção partidária que oficializará, entre 20 de julho e 5 de agosto, a coligação governista para o pleito de outubro próximo, embora aliados do governador já deem como certa a presença dessas siglas no arco de aliança.
Dois trunfos eleitorais utilizados na formação das chapas – a distribuição do tempo de propaganda em rádio e televisão e dos recursos do fundo de financiamento público de campanha – devem ter menos peso em 2018 para algumas legendas. Isso porque, desde a reforma eleitoral de 2015, a distribuição do tempo de propaganda em rádio e TV é calculada com base no tamanho das bancadas eleitas de cada partido nas últimas eleições, mas cada coligação só poderá contabilizar o tempo das seis legendas de maior coeficiente. Já o fundo eleitoral, aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado, também será, majoritariamente, distribuído pela proporção das bancadas no Legislativo. Desde antes destas mudanças, porém, a presença de alguns partidos na coligação vitoriosa já não significava atuação efetiva na construção do governo.
Apoio logístico
O atual Podemos, por exemplo, embora tenha feito parte da coligação do então candidato a governador Eunício Oliveira (MDB), adversário de Camilo Santana em 2014, aproximou-se do governo ao longo do atual mandato do governador a partir da adesão do único deputado estadual eleito pelo partido, Julinho (hoje no PPS), à base aliada na Assembleia Legislativa.
Segundo o vice-presidente estadual da sigla, Toinho do Chapéu, esta foi a única relação do partido com o Governo do Estado ao longo da gestão, que findou quando o parlamentar eleito pela sigla migrou para o PDT, em 2016. “Não temos nada no governo hoje. Eu diria que tanto o partido pode estar no grupo como não. Isso vai depender da executiva nacional”, explica. O dirigente reconhece, portanto, que a atuação do PTN junto ao Governo do Estado limitou-se a “apoio logístico”, mas ressalta que “não houve participação”.
O PPL, ainda que tenha feito parte da coligação vitoriosa em 2014, também não participou do governo após a eleição. Sem cargo na administração estadual, o discurso da legenda é de que, em eventual reeleição de Camilo, possa ter alguma atuação no Executivo. “Não temos nenhuma participação efetiva no governo. Não que não seja do nosso interesse, mas, até o momento, não foi possível. A gente pretende, nesse próximo momento, contribuir de maneira mais efetiva”, diz André Ramos, presidente estadual do partido.
Assim como no caso do Podemos, as atenções do PPL estão concentradas na busca pela eleição de deputados federais. Com três vereadores em Fortaleza, André Ramos acredita, porém, que o partido “pode dar uma importante colaboração nessa próxima eleição” ao governador. Com tantas agremiações na coligação majoritária, o presidente do PPL no Estado opina, ainda, que o maior desafio que o petista tem à frente é “não cair no fisiologismo para atender à sanha de tantos partidos”.
A negação do fisiologismo é também sustentada pelo deputado federal Odorico Monteiro, presidente estadual do PSB. “A nossa relação não é fisiológica, não é uma coisa ligada a cargos, agora, temos uma preocupação programática. Estamos fazendo plenárias populares, campanhas de organização do partido no Estado todo, para ouvir os vários segmentos do PSB”, justifica.
De acordo com Odorico, o partido tem realizado encontros com vários núcleos internos para discutir pautas relacionadas a temas como saúde, recursos hídricos e pesca. Depois disso, o PSB pretende agendar, até o final de junho, uma reunião para apresentar sugestões ao governador Camilo Santana.
Sem conflitos
Já o PRB, que tem Euler Barbosa na Secretaria do Esporte, defende que busca contribuir com o Governo do Estado não só na estrutura da administração estadual, mas também a partir dos espaços ocupados pela agremiação no Governo Federal. O deputado federal Ronaldo Martins, que preside o partido no Ceará, aponta, por exemplo, que destina emendas individuais ao Estado, além de buscar levar interesses da gestão estadual a ministérios e secretarias ocupadas pelo PRB, caso da Secretaria da Pesca e do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Ao tratar da manutenção da aliança com o governador para o pleito, ele diz que “vamos continuar contribuindo, levando ideias” ao Governo do Estado.
Ele adianta, ainda, que o partido ainda não tem definições sobre pré-candidaturas à disputa proporcional, mas ressalta que, embora nacionalmente a pré-candidatura do PRB ao Palácio do Planalto, encabeçada pelo empresário Flávio Rocha, assuma bandeiras opostas às de governos mais alinhados à esquerda, não vê conflito em compor aliança estadual com uma gestão petista. “O nosso apoio a nível de Estado para o governo é uma coisa, e o partido ter candidatura própria para presidente é outra coisa diferente”.
Diário do Nordeste