Campanha morna é reflexo de baixa competitividade
Na reta final, a disputa pelo Governo do Estado ainda é marcada por uma campanha morna, que, por diversos fatores, parece não abrir espaços para reviravoltas até o dia 7 de outubro. A avaliação é de cientistas políticos entrevistados pelo Diário do Nordeste, que, ao analisarem a primeira metade da campanha, consideram que, por ser uma disputa de baixa competitividade, esta não tem empolgado o eleitor. Tal cenário, conforme analisam, é fruto da estrutura da candidatura governista, fortalecida por diversos elementos, mas também de erros de estratégia dos partidos de oposição.
Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o cientista político Cleiton Monte observa que, por um lado, o governador Camilo Santana (PT) “largou com uma vantagem extraordinária” em busca da reeleição, por ter uma base de apoio de 24 partidos e “boa aceitação por parte da população”, segundo pesquisas de avaliação do governo, enquanto, por outro, conforme avalia, este seria o pleito em que a oposição demonstrou estar mais enfraquecida no Estado desde a redemocratização. Segundo ele, nos últimos anos, o governo esteve “desarmando” a oposição, que não se organizou em torno de uma “agenda alternativa”.
“É uma campanha que, devido a ser de baixa competitividade, não empolgou o eleitor. Por exemplo: mesmo aquele que não pensa em votar no Camilo Santana não consegue visualizar uma outra opção, então é possível que a gente tenha um número muito grande de votos brancos e nulos aqui no Ceará”.
Para ele, professor do Centro Universitário Unichristus, a tendência é que, no fim da campanha, “Camilo se fortaleça ainda mais na liderança da disputa”. Já General Theophilo (PSDB), conforme aponta, pode ter “certo crescimento” ao tornar-se mais conhecido, mas isso não deve ser suficiente para levá-lo ao segundo turno. Quanto aos outros candidatos, Cleiton Monte analisa que a candidatura de Ailton Lopes (PSOL), embora tenha “um discurso articulado e coerente, não tem um discurso voltado para as camadas populares, para o Interior do Estado, não tem uma rede de lideranças políticas, não tem recurso, e tudo isso dificulta a campanha”. Já Hélio Góis (PSL) e Francisco Gonzaga (PSTU), segundo ele, “têm uma pauta”, mas, sem recursos, estrutura e capilaridade, não conseguem fortalecer as campanhas.
Propaganda negativa
A cientista política Carla Michele Quaresma, professora do Centro Universitário Estácio do Ceará, faz avaliação semelhante ao expressar que “a impressão que temos é que não tem eleição no Estado do Ceará”. Para ela, isso é consequência da estrutura de campanha do petista e da dificuldade de organização da oposição ao longo dos últimos anos, que culminou no lançamento de um candidato desconhecido.
Além disso, a cientista política considera que a turbulenta disputa presidencial tem deixado a campanha estadual em segundo plano. “Parece que a situação do Ceará é de um referendo”, analisa. “Agora, é muito provável que haja, nessa reta final da campanha, uma intensificação da propaganda negativa, porque esses candidatos que estão no pleito não têm mais nada a perder”, afirma Quaresma.
Diário do Nordeste