Brasil

Na comemoração dos 100 dias, Bolsonaro faz afagos ao Nordeste

Na cerimônia que marcou os 100 dias de Governo, Jair Bolsonaro (PSL) fez acenos ao Nordeste, única região onde perdeu para o PT, na eleição de outubro. O presidente oficializou a criação do 13º para beneficiários do Bolsa Família, que atinge sobretudo moradores do Nordeste, onde tem maior rejeição.

No evento, Bolsonaro assinou ainda 18 atos (entre decretos e medidas que serão enviadas ao Congresso) envolvendo as áreas de Economia, Esporte, Turismo, Meio Ambiente, Educação. Entre os pontos mais relevantes está o projeto de lei que garante a autonomia do Banco Central e uma resolução que prevê a revisão do contrato de cessão onerosa, assinado entre a União e a Petrobras, além do decreto do “revogaço”, que suspende outros 250 decretos.

A concessão do 13º do Bolsa Família terá um custo anual de R$ 2,6 bilhões mas, por outro lado, não haverá reajuste no valor do benefício neste ano. Em rede social, Bolsonaro escreveu que foi possível estabelecer o 13º do Bolsa Família graças a “recursos oriundos em sua esmagadora maioria de desvios e recebimentos indevidos”, sem dar mais detalhes. Ele classificou o momento como um “grande dia”.

Em um discurso de seis minutos, Bolsonaro repetiu o teor de declarações proferidas durante a campanha eleitoral. “Uma das diretrizes do Governo é trabalhar com foco na valorização da família, valores cristãos, educação de qualidade e sem viés ideológico, com geração de emprego, renda e desburocratização”.

Com exceção de Paulo Guedes (Economia) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), que estão no exterior, todos os ministros estiveram presentes na cerimônia no Palácio do Planalto.

Nordeste

No Nordeste, Bolsonaro teve na eleição 30% dos votos no segundo turno, contra 70% de Fernando Haddad (PT). É justamente nessa região em que a presença do Bolsa Família é mais marcante – ao menos 12% da população recebe o benefício. No Sudeste, que deu grande vantagem ao presidente, são 4% de beneficiários.

Ao se manifestar, em uma rede social, sobre o anúncio do 13º do Bolsa Família, Haddad bateu boca com o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente.

O petista republicou uma postagem datada de 2010 da conta oficial de Bolsonaro, quando o então deputado federal disse: “o Bolsa-farelo (família) vai manter essa turma no Poder”, se referindo aos governos do PT. Haddad fez o questionamento: “Será que 1/12 do bolsa-farelo (13ª parcela) vai reverter sua situação no Nordeste? Lembrando que você não reajustou o benefício nem pela inflação e seu governo ofende os nordestinos a todo instante?”. A postagem foi respondida pelo filho do presidente, que afirmou: “Chora marmita!!!”.

“Priminho tá bem?”, respondeu Haddad, no que parece ser uma referência ao primo e amigo de Carlos, Leonardo de Jesus, o Leo Índio que, mesmo não tendo cargo, era figura frequente nos corredores do Palácio do Planalto.

Carlos retrucou: “Continua chorando marmita???”, no que Haddad respondeu, cobrando uma resposta para as vítimas das enchentes no Rio e para a família do músico Evaldo Rosa dos Santos, morto após ser fuzilado com 80 tiros em uma ação do Exército.

Ao responder, Carlos perguntou “Lacrou marmita?” e citou reportagem de 2016, segundo a qual Haddad, à época prefeito de São Paulo, usava só 39% do previsto para o controle de cheias em córregos.

Pastores

Depois da cerimônia em Brasília, o presidente viajou ao Rio de Janeiro e almoçou com lideranças evangélicas para fazer um triplo afago: aos filhos, ao ex-senador Magno Malta (PR-ES) e a Israel. Enquanto contava sobre sua viagem com os filhos para o País, em 2016, quando foi batizado no Rio Jordão, o presidente fez questão de reafirmar sua proximidade com a família. “Muitos tentaram afastar de mim. Mas ninguém afasta um filho do pai, o pai do filho”, disse.

Bolsonaro também fez um cafuné no ex-senador Magno Malta, aliado que acabou alijado de seu Governo: “Quase chorei, confesso. Que nunca mais nos afastemos”.

O presidente disse que a viagem a Israel tocou sua alma e defendeu que quem decide a capital do país é o povo. Ele também reafirmou seu compromisso de transferir a Embaixada brasileira para Jerusalém. Por enquanto, Bolsonaro anunciou a criação de um escritório de representação comercial na cidade e manteve a Embaixada em Tel Aviv. “Queremos cumprir esse compromisso, mas, como um bom casamento, tem que namorar, ficar noivo”, disse.

O presidente abriu o discurso solidarizando-se com os cariocas, com o governador Wilson Witzel (PSC), que estava presente no evento, e com o prefeito Marcelo Crivella (PRB), diante das chuvas que deixaram dez mortos no início da semana. “Que Deus conforte os familiares das vítimas”, afirmou.

Servido num hotel na Barra, zona oeste do Rio, o almoço com frango, picanha e penne à bolonhesa foi organizado pelo pastor Silas Malafaia, que sentou-se à mesa com o presidente. “Não votamos em Bolsonaro exclusivamente por causa de agenda moral. Votamos porque ele tem vida limpa, questão da segurança, da corrupção, de um novo País, de desemprego, máquina emperrada”, disse Malafaia, dirigindo-se à imprensa.

Autocrítica de Onyx

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, voltou a admitir erros nos primeiros 100 dias da gestão Jair Bolsonaro. “Precisamos ter humildade. Saber que a gente erra e corrigir.” Dois ministros foram demitidos. “O presidente está fazendo os mesmos ajustes que o Felipão (técnico do Palmeiras) fez em 2018 e deu certo”.

Otimismo do chanceler

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, evitou comentar os problemas enfrentados nos 100 dias e classificou o período como “extremamente positivo”. “Fizemos bem mais do que esperávamos”, declarou.

Fonte: Diário do Nordeste