Acionistas farão aporte de US$ 500 milhões na CSP em 3 anos
Responsável pelo maior investimento industrial já aplicado no Ceará e pela mudança significativa na balança comercial do Estado, a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) deverá receber um novo grande aporte de seus acionistas: Dongkuk, Posco e Vale. O valor total previsto é de US$ 500 milhões (o equivalente a mais de R$ 2 bilhões na atual cotação do dólar), que devem ser aplicados dentro de três anos na siderúrgica instalada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp). A cifra foi divulgada na imprensa internacional pela agência Yonhap – da Coreia do Sul, país de origem da Dongkuk e da Posco – e por outros veículos de comunicação asiáticos.
Apenas a Dongkuk Steel, que tem 30% de participação acionária no empreendimento, fará um aporte de US$ 150 milhões. Os US$ 350 milhões restantes do investimento previsto ficarão a cargo da Posco (20%) e da Vale, que detém 50% das ações na joint venture binacional.
De acordo com a agência de notícias sul-coreana, a CSP registrou perdas líquidas devido aos custos financeiros e baixas com o câmbio, o que teria levado as três empresas acionistas a elaborar um plano para a Siderúrgica. Procurada pela reportagem, a CSP não informou em que áreas será aplicado o investimento. A empresa justificou que não comenta sobre decisões tomadas pelos acionistas.
Na avaliação do economista e consultor internacional Alcânta-ra Macêdo, o aporte anunciado representa “uma boa notícia para a balança comercial do Estado do Ceará”, assinala. “Me refiro à balança comercial internacional, que há muito tempo é uma balança que apresenta resultados deficitários, e com a Companhia Siderúrgica do Pecém, há a possibilidade de termos constantes superávits”, detalha.
Ele avalia ainda que o investimento pode influenciar na consolidação da Zona de Processamento e Exportação (ZPE). “É a única no Brasil em funcionamento. No País, há mais de 20 ZPEs, em vários estados, e nenhuma outra funcionando, apenas a nossa”.
Macêdo lembra que um investimento robusto como o anunciado não é realizado sem uma avaliação criteriosa. “Para empresas como a Dongkuk e como a Vale realizarem um investimento como esse no Brasil, em uma unidade no Ceará, é porque antes teve uma análise criteriosa da tecnologia utilizada e dos mercados”, destaca.
Para ele, a economia brasileira vive um ponto de inflexão que realmente deve ser visualizado com cautela. “Nós temos um Governo de clareza liberal, mas uma conjuntura política de transição com reformas estruturais que todo o mercado internacional está acompanhando com visão de lente de aumento”, diz.
Prejuízo contábil
A CSP, que contou com um investimento inicial de US$ 5,4 bilhões, vem acumulando prejuízos desde o início da operação. Para Alcântara Macêdo, o saldo negativo – a siderúrgica teve perda de R$ 1.794.461 no ano de 2018, após encerrar 2017 com prejuízo de R$ 3.744.250 – não representa preocupação. “Uma empresa do tamanho da CSP começa apresentando prejuízo contábil porque só a depreciação é o faturamento. Todas essas empresas como siderúrgicas, negócios na área de minerais, montadoras, elas inicialmente dão prejuízo contábil. E isso é normal. A preocupação seria se a CSP não tivesse espaço no mercado, se ela realmente tivesse uma tecnologia desatualizada, o que não é o caso”, detalha ainda o economista Alcântara Macêdo.
De acordo com o último balanço, o lucro Ebitda (resultado sem os efeitos financeiros e depreciação) ficou positivo em R$ 1,2 bilhão em 2018, frente ao resultado negativo de R$ 452 milhões em 2017. A Companhia Siderúrgica do Pecém alcançou no ano passado R$ 6,3 bilhões em vendas, cifra que representa crescimento de 75% em comparação com o total vendido no ano anterior.
O diretor financeiro do Sindicato das Indústrias Metalúrgi-cas, Mecânicas e de Materiais Elétricos no Estado do Ceará (Simec), Ricard Pereira, avalia que a situação financeira do setor enfrenta dificuldades, mas que a CSP destoa dentro desse contexto. “A Companhia Siderúrgica do Pecém é uma empresa que está maturada, em pleno vapor, produzindo a mil”, aponta.
Na visão do diretor financeiro do Simec, os principais gargalos relacionados à companhia não estão na CSP, mas sim no entorno. “Não é obrigação da CSP, mas o que temos visto é que as vias de acesso estão em uma situação complicada. A Rodovia das Placas precisa ser concluída. Mas a própria CSP está operando com 99% da capacidade”, ressalta Ricard Pereira.
A companhia já produziu 6 milhões de toneladas de placas de aço desde 2016 – somente em 2018, a produção chegou a 2.937 milhões de toneladas. O produto já foi enviado para 20 países.
Diário do Nordeste