Ceará

Aquífero abastece mais de 600 mil pessoas no Cariri

Barbalha. Na região do Cariri, cerca de 600 mil pessoas são abastecidas por água subterrânea, fruto da Bacia Sedimentar do Araripe. No entanto, até então, foram poucas análises que revelaram com precisão o volume e a qualidade da água retirada dos aquíferos. Mas a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) apresentou, na última terça-feira, os dados preliminares de um estudo de quase seis anos. O relatório final deve ser concluído em um mês, e poderá apresentar resultados mais precisos. A estimativa é de 139 milhões de m³, no aquífero médio, e 26 milhões de m³ no aquífero inferior

A partir das informações do Consórcio Água e Solo, que analisou 45 poços geridos pela Cogerh e Rede Integrada de Monitoramento das Águas Subterrâneas (Rimas), entre os anos de 2010 e 2014, foi possível ter uma indicação do volume de água e sua reposição, além de fazer uma análise dos componentes químicos encontrados. Segundo o gerente da Cogerh, Alberto Medeiros, este estudo é muito importante para que a população conheça a reserva que abastece a região.

“O Cariri vive, única e exclusivamente, de água subterrânea. Até hoje, a gente não tinha essa informação concreta, digamos assim. Havia vários estudos que apontava volumes diversos, de 3 bilhões a 30 bilhões, ou até 89 milhões. Uma coisa totalmente fora da realidade. Agora está se fechando isso. Esse é o mais completo”, garante Alberto.

A Bacia Sedimentar do Araripe, que abrange dez municípios do Cariri, apresentou um volume de 139 milhões de m³, no aquífero médio, e 26 milhões de m³ no aquífero inferior. Isto representa três vezes a capacidade do Açude do Rosário, em Lavras da Mangabeira. Mas é bem abaixo do que se havia suposto em outras pesquisas. Algumas medidas já foram tomadas a partir dos resultados preliminares, como em 2015, quando foi restrita a perfuração de poços no Cariri.

“Só pode perfurar poços aqui se for para o abastecimento humano ou utilidade pública, como hospital ou escola em local que ainda não foi atendido pelas redes. O estudo também apontou que estamos consumindo mais do que repondo. Como se tivesse uma caixa de água que tira mais água do que coloca”, completa Alberto Medeiros.

Segundo o geólogo Guilherme Filgueira, os anos de seca prejudicam a quantidade de infiltração, mas se analisar a partir do método direto, mesmo com precipitações maiores, a recarga nos aquíferos pode ser menor e vice-versa. Por outro lado, Cogerh levou em consideração as médias históricas de 10 a 15 anos e não apenas os últimos seis anos de chuvas abaixo da média. “A água, quando infiltra na superfície até o aquífero pode ter diversos caminhos e poderia dar essa variação”, explica.

Qualidade da água

O estudo também mostra que já tem alguns pontos de contaminação, mesmo sendo pequenos. Foram encontrados coliformes fecais e alguns metais pesados que podem vir a comprometer essa reserva de água no futuro. “Podemos tomar medidas, como tratamento de esgotos e do lixo, já que aqui não tem aterro sanitário e é colocado a céu aberto, sem nenhum cuidado. Essas medidas podem vir a melhorar a qualidade da água nesse aquífero”, afirma Alberto Medeiros.

A análise da água bruta mostrou o contato com matéria orgânica e compostos nitrogenados e a presença da bactéria E. Coli. Isso demonstra a necessidade de tratamento da água. Mas não apresentou BTEX – benzeno, tolueno, etil-benzeno e xilenos – que são compostos orgânicos encontrados nos derivados de petróleo, que podem causar efeitos nocivos ao sistema nervoso central ou causar câncer.

“Tem que ficar claro, por mais que tenha poços fora dos limites estabelecidos, estes são dados de água bruta. A água bruta é diferente da água potável. Água bruta, que é encontrada em rios, fontes, poços, precisa de tratamento. Por mais que a água esteja boa, ela precisa de tratamento, assim como a água menos adequada”, explica o engenheiro químico Miguel Rodrigues.

Apresentam pequenos sinais contaminação as águas dos poços de Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte. Alguns dados estavam acima dos limites estabelecidos pela Portaria 2.914, de 2011, que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. “É uma tendência natural que os aglomerados urbanos tenham mais concentração. Mas a estação de tratamento consegue corrigi-los”, completa Miguel Rodrigues.

Fonte: Diário do Nordeste