Ceará

CE: trabalhador com 65 anos ganha 56,7 % acima da média

A média salarial do trabalhador cearense fechou agosto em R$ 1.205,31, de acordo com informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Os dados revelam ainda que a maior média salarial corresponde a faixa etária das pessoas com 65 anos ou mais. Nesta faixa, os salários estão em R$ 1.889,00, cerca de 56,7% maior que a média geral.

Por faixa de idade, os trabalhadores formais cearenses com até 17 anos ganham R$ 649,74. Já os empregados entre 18 e 24 anos recebem R$ 989,73. Em seguida aparecem os celetistas de 25 a 29 com salários de R$ 1.253,28, de 30 a 39 (R$ 1.319,01), de 40 a 49 (R$ 1.328,02) e de 50 a 64 (R$1.384,78).

Os resultados de agosto apontam que à medida que se avança na idade a média salarial também aumenta. “Em tese, os trabalhadores com mais idade têm trajetória mais longa. A grande dureza dessa realidade fica por conta da rotatividade do mercado de trabalho”, analisa o coordenador de Estudos e Análises de Mercado do Instituto do Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita.

Conquistas

Ele explica que a base salarial dessa faixa etária é mais alta porque os mais velhos têm mais tempo de carreira e conseguiram progressões salariais ao longo da trajetória. Mesquita também afirma que o emprego tradicional está mais entre os jovens. “O trabalhador mais velho, ao perder seu emprego, enfrenta uma dificuldade maior de recolocação no mercado. Muitas empresas preferem os mais jovens por conta da produtividade e dos salários mais baixos”.

O coordenador do IDT diz que, ao optar por contratar os mais jovens, as empresas reduzem custos nas folhas de pagamento e realizam ajustes econômicos. “É um ciclo vicioso em que os jovens estão inseridos em trabalhos de tempos parciais, com salários mais baixos, jornadas de até 6h diárias e com relações de trabalho precarizadas. Essa é uma questão que tem de ser relativizada”, explica.

Desigualdade regional

Na comparação com o Brasil, o Ceará ainda detém uma média salarial mais baixa. Enquanto que no País, em agosto, o trabalhador ganhava em média R$ 1.495,07, no Estado, os empregados celetistas receberam R$ 1.205,31, uma diferença de pelo menos 24%.

“No geral, a gente tem observado que a média do Nordeste é muito aquém da nacional. Isso se deve à desigualdade regional, com o desenvolvimento tardio da Região. É uma desigualdade muito significativa”, lamenta o especialista.

De acordo com ele, até mesmo estados do Nordeste têm uma média melhor que a cearense. “Apesar de uma dinâmica econômica melhor em comparação a outros estados, o Ceará não tem conseguido avançar (na questão de valorização do salário). Mesmo com o nível de escolaridade mais elevado, nós ainda não estamos conseguindo reverter essa realidade”, acrescenta o coordenador do IDT.

Brasil

O mesmo cenário no qual os trabalhadores de mais idade ganham melhor é encontrado ao analisar os dados de média salarial do brasileiro. Os mais experientes também despontam com os maiores salários, enquanto que os mais jovens ficam com a fatia menor da renda.

Enquanto a média brasileira no mês ficou em R$ 1.495,07, a remuneração dos idosos foi de R$ 1.981,61, 32,5% a mais. Na faixa etária imediatamente abaixo dessa, entre 50 e 64 anos, em que está classificada parte dos idosos, a remuneração também foi bastante superior à média geral. Fechou agosto em R$ 1.727,54.

Os trabalhadores com mais de 65 anos ganham mais em 23 das 27 unidades da federação, de acordo com o Cagede de agosto. Em duas delas, Rondônia e Roraima, os maiores salários estão entre trabalhadores de 50 a 64 anos. Apenas dois estados não seguem essa lógica: Amapá e Rio Grande do Sul. Nesses dois últimos estados, é quem tem entre 40 e 49 anos que possui melhor remuneração.

Maior presença

E não são apenas os salários dos idosos que estão em alta em comparação com os demais brasileiros. A presença deles no mercado formal de trabalho também tem aumentado nos últimos anos. Em 2010, a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) apontava a presença de 361.387 trabalhadores com mais de 65 anos trabalhando com carteira assinada. O número subiu para 574.102 em 2015, um aumento de 58,8%. Na faixa dos 50 aos 64 anos, o salto foi de 5.899.157 para 7.660.482 trabalhadores, 30% de acréscimo.

O coordenador de Estatísticas do Trabalho do Ministério do Trabalho, Mário Magalhães, avalia o aumento da presença de idosos como reflexo do envelhecimento da população brasileira. “O aumento da longevidade dos brasileiros tem feito com que eles tenham uma vida produtiva também mais alongada. Isso, aliado à experiência adquirida com o tempo, faz com que ocupem cargos de mais alto escalão, onde os salários também são mais altos”, analisa.

Fonte: Diário do Nordeste