Ceará

Ceará registra um AVC a cada 20 minutos

No Ceará, uma pessoa sofre Acidente Vascular Cerebral (AVC) a cada 20 minutos. A cada hora, um paciente morre. As graves estatísticas evidenciam que a doença continua sendo uma das principais causas de morte no Estado, competindo com a violência urbana e os acidentes de trânsito. Fatores de risco como tabagismo, sedentarismo, hipertensão e diabetes contribuíram para tornar o cearense alvo fácil de complicações neurológicas. Na falha da prevenção, o diagnóstico e o tratamento rápidos são, hoje, a estratégia para reduzir a letalidade do AVC e evitar sequelas nos pacientes acometidos por derrames.

Os dados sobre a incidência da doença no Estado foram revelados pelo médico neurologista do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) Francisco Mont’Alverne, que, nos próximos dias 27 e 28, estará à frente do Star Live, curso tutorial sobre atendimento ao AVC isquêmico que será realizado em Fortaleza. O evento, que contará com a participação de palestrantes brasileiros e internacionais, reunirá profissionais da saúde para mostrar avanços no tratamento do AVC a partir de casos concretos.

O curso é uma iniciativa da Unidade de AVC do HGF, que completa nove anos de existência em 2018. Por ano, a equipe trata cerca de 1.500 pacientes. “O time do HGF concebeu a necessidade de transmitir um aprendizado acumulado nos últimos anos. Decidimos fazer esse curso, no qual o participante é alçado à problemática de casos concretos. Junto com os palestrantes, eles irão montar o processo de tomada de decisão para resolver de maneira mais rápida e efetiva a questão colocada”, ressalta o neurologista.

Segundo Mont’Alverne, identificar rapidamente episódios de AVC e instituir, também de forma ágil, tratamentos adequados para cada caso são os maiores desafios dos médicos. Isso porque, a cada minuto que se passa, as chances de sobrevivência do paciente diminuem. Conforme explica o neurologista, a pessoa que sofre AVC agudo tem menos de uma hora para chegar a um hospital e receber o primeiro atendimento.

“A cada minuto que se passa e que não abrimos a artéria para retirar o coágulo, dois milhões de pessoas morrem. Cada sete minutos que perdemos no tratamento significam 30 dias a mais de invalidez para o paciente”, destaca Mont’Alverne.

A disponibilização, nas últimas décadas, de diagnósticos e tratamentos cada vez mais avançados permite respostas mais rápidas aos pacientes. O neurologista cita o desenvolvimento de métodos de imagem que permitem avaliar, com detalhes, o nível de comprometimento cerebral da pessoa acometida por um AVC. Ao mesmo tempo, pesquisas conseguiram demonstrar que alguns tratamentos, como a realização de cateterismo para a retirada de coágulos, podem ser aplicados em pacientes mesmo 24 horas após o episódio.

Prevenção

No entanto, o médico salienta que a prevenção ainda é forma mais eficaz de diminuir a incidência de AVCs ou, pelo menos, retardar a ocorrência da doença. São 10 os maiores fatores de risco associados à complicação: tabagismo, hipertensão, diabetes, colesterol, etilismo, sedentarismo, aumento da circunferência abdominal, estresse psicológico ou depressão, doenças cardíacas e envelhecimento. Destes, o último, como salienta o especialista, é o único sem possibilidade de prevenção. Todos os outros podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis e cuidados médicos.

“Todo mundo se preocupa com o câncer de mama, do câncer de próstata, mas o AVC mata duas vezes mais e ninguém faz campanha contínua de prevenção. É preciso que isso seja colocado como pano de fundo para entendermos a relevância do problema”, diz Mont’Alverne.

Diário do Nordeste