Cidades amargam até 62% menos chuvas ante a média histórica
A uma semana para o último mês da quadra chuvosa, diversos municípios amargam chuva abaixo da média histórica. Essas cidades, sobretudo das regiões do Inhamuns e Sertão Central, destoam da maioria dos municípios do Estado que teve bons volumes pluviométricos ao longo da quadra chuvosa, período compreendido entre os meses de fevereiro e maio.
A equação é simples e um tanto quanto cruel: pouca água, muito prejuízo. O homem do campo sobrevive da lavoura. E o plantio se mantém com as chuvas. O resultado é dezenas de agricultores desolados. O impacto, no entanto, vai além dos limites da zona rural. A economia nas pequenas e até médias cidades é movida com o dinheiro advindo da agricultura. Quando um elo se quebra, todo o ciclo fica afetado.
Madalena, no Sertão cearense, foi a cidade com menor volume observado até dia 20. Conforme a Funceme, foram apenas 297,7 mm, o que representa pouco menos da metade da média esperada. Tururu, por sua vez, figura com o maior desvio negativo dentre os 184 municípios do Estado. O órgão verificou 344,5 mm, o que sinaliza desvio de 62.1%.
Prejuízos
Em três municípios (Acopiara, Saboeiro e Tauá) da região dos Inhamuns, a perda de plantio é estimada pela Ematerce em mais de 60%. Porém, até o fim da quadra chuvosa, esse índice tende a aumentar. Em Tauá, uma das áreas mais críticas é o distrito de Carrapateiras. No sítio Altamira, o cultivo de sequeiro (aquele que depende exclusivamente da chuva) foi totalmente perdido.
Os pequenos açudes estão com reduzido volume de água. O quadro é desolador para os produtores rurais. “A perda da safra de grãos (milho e feijão) vai ser acentuada em Acopiara e Saboeiro”, observa o gerente regional do escritório da Ematerce, em Iguatu, Joaquim Virgolino Neto. “Muitos agricultores sequer plantaram. As sementes estão guardadas em casa”.
Na localidade de Trussu, Acopiara, o agricultor Pedro Gomes chegou a preparar uma área de um hectare para o plantio de milho e feijão, mas a terra continuou seca e o cultivo não foi feito. “É triste”, disse. “Eu pensava que neste ano ia ser diferente, mas as chuvas não vieram e as que chegaram foram fracas”.
Há locais, em Saboeiro, onde praticamente não choveu em janeiro e fevereiro deste ano. “Em março, houve uma pequena melhora e a gente fez um plantio, mas as chuvas não continuaram e o milho está se perdendo”, disse o agricultor Luís Lopes, da localidade de Flamengo.
Em Acopiara, as chuvas em março, segundo a Funceme, ficaram 55% abaixo da média, e na primeira quinzena de abril, queda de 79%. Os números mostram uma situação crítica. “Em fevereiro e março não deu para plantar em Acopiara por falta de chuva que foi total”, disse Virgolino Neto. “Em abril houve chuva localizada, mas o quadro geral é muito ruim”.
Açudes
Já em algumas localidades de Madalena, o cenário é desanimador para o homem do campo. Quem plantou perdeu, mas a preocupação maior é com o resto do ano, uma vez que os açudes da região não estão armazenando água.
Esse é o diagnóstico feito pela presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Madalena, Márcia Maria Rodrigues da Silva. “As regiões mais afetadas do nosso Município, onde 90% dos trabalhadores se dedicam à agricultura, são as localidades de Pau Ferro, no Assentamento 25 de Maio, a pouco mais de 12 Km da sede e Paus Brancos, uma comunidade vizinha distante mais 12 Km. O nosso inverno já está chegando ao fim e até os barreiros, reservatório menores, estão secos”, ressalta.
Líder da comunidade de Paus Brancos, o agricultor Eduardo de Sousa Braga confirma a preocupação das 200 famílias que ali residem. “Está sendo o inverno mais triste dos últimos anos. Enquanto chove com abundância em outros lugares do Estado, a água que está caindo não é suficiente nem para fazer sequer o sorgo brotar. Para piorar ainda mais a situação, o açude de onde é captada a água tem carga o suficiente somente para dois meses e a gente não tem recebido apoio de ninguém. Em breve vamos precisar mendigar água dos carros-pipa”, acrescenta.
Já na comunidade de Pau Ferro, os moradores estão desolados. Nem as cisternas de placa acumularam ainda água o suficiente. Quem não quiser morrer de sede precisa comprar. “A carga de 7 mil litros custa em média R$ 120”, pontua o morador do local Joaquim Nunes.
Fonte: Diário do Nordeste