Dra. Luciana defende criação do Museu do Padre Vieira no Cristo Rei
A vereadora e vice-presidente da Câmara de Vereadores, Dra. Luciana Rolim voltou a defender na reunião desta terça-feira, 24, que seja transformado em Museu do Padre Antônio Vieira a antiga escola do Cristo Rei.
Dra. Luciana esteve no distrito na companhia do seu esposo, o vice-prefeito da cidade, Dr. Fabrício Rolim, onde acompanhou na comunidade a última noite de novena da festa de Cristo Rei. Para reforçar seu pedido, ela disse que em agosto de 2017, foi aprovado um requerimento para o Executivo, sob o número 263. “Durante a nossa visita, conheci familiares de Padre Vieira e na conversa que tivemos na comunidade percebi o desejo de todos que o acervo de padre Vieira já estivesse instalado no prédio da escola”, disse.
Segundo a vereadora, os familiares estão preocupados, uma vez que, todo o acervo está amontoado em um quarto da casa grande da família. “Reforço aqui meu pedido de que o município faça a adequação do antigo prédio da escola para o museu Padre Vieira. Várzea Alegre ao longo dos anos vem fazendo vários gastos com eventos culturais, deixando a desejar, no que se refere a investimentos na área de criação de museus, de realização de estudos, que no meu ponto de vista são investimentos fundamentais para que nossa história permaneça viva”, disse.
O vereador Michael Martins (PT), compartilhou do pensamento da vereadora afirmando a importância do projeto para valorização da cultura.
Biografia da Padre Vieira
PADRE VIEIRA, UM GRANDE PARLAMENTAR (1919-2003)
Antônio Batista Vieira – o Padre Vieira de Várzea Alegre, nasceu no Sítio Lagoa dos Órfãos (atualmente Cristo Rei), ao sopé da Serra dos Cavalos, no município de Várzea Alegre, Ceará, no dia 14 de junho de 1919. Ordenou-se sacerdote no município de Crato, em 27 de setembro de 1942, cursou Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Fortaleza, estudou Administração de Empresas na Universidade da Califórnia, Estados Unidos, fez o curso de Direto na Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Licenciatura em Filosofia na Faculdade de Filosofia de São João Del Rei, Minas Gerais.
No seu trabalho cotidiano, Padre Vieira deixou as marcas da sua inteligência privilegiada: como padre, colocando o evangelho a serviço dos necessitados; como jornalista, tratando dos fatos, de forma crítica e impessoal; como professor, formando cidadãos; como advogado, defendendo os direitos dos brasileiros; como filósofo buscando a compreensão do homem e do mundo em seus conflitos e intempéries; como escritor, nos 27 livros publicados, onde se destaca nas letras nacionais; e como parlamentar, com uma atuação exemplar, produzindo um trabalho de defesa dos excluídos e explorados pelo desgoverno dos ditadores civis e militares do Brasil da época.
Joaryvar Macedo, notável escritor cearense, assim definiu o Pe. Vieira: “uma inteligência privilegiada, cultura polimorfa e bem organizada cerebração”.
Diria simplesmente: uma vasta cultura – sempre a serviço dos injustiçados e excluídos – apresentada em forma de discursos (como deputado federal), e nos seguintes livros:100 Corte Sem Recortes (1963), O Jumento, Nosso Irmão (1964), O Verbo Amar e Suas Complicações (1965), Sertão Brabo (1968), Mensagem de Fé para quem não tem Fé (no Brasil, em 1981, e no Chile, em 1983), Penso, Logo Desisto (1982), Pai Nosso (1983), Bom-Dia, Irmão Leitor (1984), Por que Fui Cassado (1985), Gramática do Absurdo (1985), A Igreja, o Estado e a Questão Social (1986), A Família (Evolução histórica, sociológica e antropológica – 1987), Eu e os Outros (1987), Roteiro Místico e Lírico sobre Juazeiro do Norte(1988), Eu sou a Mãe do Belo Amor (1988), Senhor Aumentai a Minha Fé (1989), Filosofia, Política e Problemas Jurídicos(1989), Fatos Interessantes e Pitorescos (2001) e Crônicas Afiadas (2003).
Ele ficou muito conhecido como o “Padre do Jumento” pelas denúncias e combates incessantes que se iniciaram na década de 50, contra a matança indiscriminada de asininos para a fabricação de vacina, em Fortaleza. Isso produziu o Livro O Jumento nosso Irmão”, em quatro volumes – época em que era vigário no município de Icó-CE – e uma infinidades de crônicas e discursos defendendo o jumento. Logo, logo, o Pe. Vieira teve o seu nome projetado, internacionalmente.
Foi eleito deputado federal, mas logo foi cassado pela elite jurássica da política brasileira. Foi parlamentar numa época de perseguição aos que pensavam diferente do governo. E os militares, como autores da repressão, numa miopia incurável, viam sempre sinais de subversão em qualquer ato e pensamento que não fosse fiel à cartilha do (DES)governo golpista, ditatorial, civil e militar. E, por não se curvar e não admitir submissão aos representantes da repressão, Padre Vieira passa a ser visto como inimigo e subversivo, o que levou à sua cassação em 1969.
O Padre Vieira foi um dos deputados que mais discursaram no Congresso Nacional. Durante dois anos como deputado federal proferiu 82 discursos, produziu 27 projetos de lei e inúmeros pareceres nas Comissões Parlamentares. Na tribuna, utilizava a palavra, não para encobrir e defender as arbitrariedades do regime, como fazia a maior parte dos parlamentares “lambedores de botas” do momento; mas para combatê-las, com coragem e bravura. Ele foi cassado, vale sublinhar, não por falta de ética, mas pelo seu excesso.
“Mas eu preferia morrer de pé, a sobreviver de joelhos ou acocorados diante dos poderosos”. Assim falou o nosso Padre Vieira, não apenas como desabafo, mas, sobretudo, numa alusão aos que viviam eternamente de joelhos e acocorados diante da elite repressora, ato ominoso e asqueroso que contribuía para perpetuar o “status quo”, enojando, ainda mais a política brasileira.
Sei não, mas se existisse uma lei para punir com prisão o bajulador, o famoso babão, o nojento, o puxa-saco, o lambe-botas, seria necessário multiplicar o número de presídios, da época. E hoje, a situação não mudou, porque piorou.
“O Congresso Nacional”, dizia o Padre Vieira em um de seus diversos discursos, “não pode ser a necrópole, onde se enterram as liberdades e a consciência de um povo. Tem de ser a trincheira dos ideais democráticos”.
“Fui cassado politicamente. Mas não fui castrado moralmente”. Dizia o Padre Vieira, numa alusão, sem dúvida alguma, aos muitos que permaneceram na política, mas castrados moralmente. E estes ainda abundam em terras brasileiras, da nascente do rio Ailã ao Arroio Chuí e da nascente do rio Moa à Ponta Seixas.
O município de Várzea Alegre compreende muito bem a importância do Padre Vieira e, assim, tem divulgado o seu nome: construção de praça, monumento, realização de seminários e exposições pelo prefeito José Hélder; divulgação da obra do Padre Vieira nas escolas, através dos componentes curriculares das Áreas de Ciências Humanas e Linguagens; realização de entrevistas e mesa redonda nas rádios de Várzea Alegre; escolha do nome do Padre como Patrono da Academia Varzealegrense de Letras; o nome à biblioteca da Escola Maria Afonsina; Criação da Antologia Sertão Brabo, um livro sobre a obra do Padre Vieira. I Mostra Padre Vieira e as homenagens durante o desfile de 7 de Setembro.
Em 2019 teremos o seu centenário e uma ideia deveria tornar-se fato: o nome do Padre Vieira de Várzea Alegre para o novo espaço onde funcionará o Palácio da Câmara de Vereadores, que está para ser construído no município. Nada há de mais justo, pois teremos com a escolha do Padre Vieira, o nome de projeção nacional, na vida eclesiástica, no magistério, no jornalismo, na literatura nacional (vinte e sete livros publicados), na advocacia e no Congresso Nacional, realidades que também contribuíram para destacar o município de Várzea Alegre.
Deveríamos ter em todas as instituições nomes representativos e que tenham valor histórico e significado para o ao seu reconhecimento e engrandecimento.
Com o nome do Padre Vieira, de Várzea Alegre, para o novo espaço da Câmara de Vereadores, ao mesmo tempo em que escolhemos um nome de peso e projeção nacional, faríamos uma homenagem à coragem e a bravura deste parlamentar (injustamente cassado), que fez história na política brasileira, defendendo os direitos fundamentais dos brasileiros e denunciando a tortura e a perseguição aos que pensavam diferente.
Antônio Batista Vieira, o Padre Vieira de Várzea Alegre, foi simplesmente:
– o SACERDOTE que construiu igrejas e pregou o evangelho sempre a serviço dos humildes e necessitados;
– o PROFESSOR de Português, Latim, Italiano, Grego, Antropologia, Filosofia Sociologia e Literatura Brasileira;
– o FILÓSOFO que compreendia a urgência de valorização do ser humano e a necessidade premente de satisfação dos seus direitos fundamentais;
– o JORNALISTA inteligente, imparcial e sempre atento à compreensão crítica das questões sociais;
– o ADVOGADO que compreendia o direito, mas numa perspectiva antropológica, sociológica e questionadora do sentido linear e literal que era aplicado aos códigos, uma prática desumana, insistente e deveras ineficaz/ineficiente entre os operadores do direito;
– o ESCRITOR brilhante, dono de uma vasta e riquíssima obra, com uma diversidade de temas e sempre em defesa dos direitos fundamentais do ser humano. Escreveu O jumento, nosso irmão (em 4 volumes), o livro que é considerado o mais completo do mundo sobre o jumento;
– o DEPUTADO FEDERAL, que foi cassado pelo famigerado AI-5, unicamente por defender os direitos dos brasileiros e denunciar as arbitrariedades cometidas contra os mesmos.
A importância do Padre Vieira, não somente no município de Várzea Alegre, mas no cenário nacional é inconteste, é fato. Mas é preciso que os varzealegrenses demonstrem essa importância reconhecendo e escolhendo o seu nome para o novo espaço, o Palácio da Câmara de Vereadores de Várzea Alegre.
Dagoberto Diniz