Haddad encosta em Bolsonaro e se isola em 2º lugar; Ciro estaciona
O Brasil parece se encaminhar para um polarizado duelo eleitoral entre o direitista Jair Bolsonaro e o esquerdista Fernando Haddad, candidato do ex-presidente Lula, figuras que geram adesões passionais e os maiores índices de rejeição do País. Essa é a avaliação dominante entre especialistas após a pesquisa Ibope divulgada, ontem à noite.
“Caso exista um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, vai ser a polarização de todas as discussões de discursos de ódio nos últimos tempos. Vai ser um segundo lugar muito acirrado”, observou a cientista política Paula Vieira, professora da Unichristus e pesquisadora do Laboratório de Estudos de Política, Eleições e Mídias (Lepem-UFC).
O Ibope retratou, ontem, que o candidato do PT segue crescendo, em média, um ponto percentual por dia desde que foi oficializado na disputa em substituição a Lula, há duas semanas.
“Quando se fala em transferência de votos (de Lula para Haddad), a gente está falando das pessoas que foram beneficiadas pelas políticas implementadas pelos governos de Lula”, analisou a cientista política.
Desde o início da série do Ibope, em 20 de agosto, apenas Bolsonaro e Haddad cresceram. O candidato do PSL permaneceu na liderança o tempo todo e cresceu oito pontos, passando de 20% para 28%.
“Após a facada, Bolsonaro deixou de falar de temas muito polêmicos”, observou a pesquisadora, destacando que essa trégua em emitir opiniões incendiárias contribuiu para atrair intenções de voto de eleitores antipetistas da classe média, antes destinados a Marina e Geraldo Alckmin.
Já o petista deu um salto maior: tinha 4% no início da campanha e agora tem 22%, uma elevação de 18 pontos.
Regiões
Haddad cresceu no Nordeste, onde subiu de 31% para 34% e é o candidato mais citado por eleitores na região. Ciro Gomes (PDT) vem em seguida, com 18% – ele tinha 17% há uma semana. Bolsonaro oscilou de 16% para 17% no Nordeste.
“Se Marina e Alckmin continuarem em queda, Ciro pode herdar esses votos e se beneficiar do voto útil”, disse Vieira.
No Sul, Bolsonaro caiu oito pontos, apesar de ainda liderar na região. O presidenciável tem 30% nesse território. No último dia 18, tinha 38%. O candidato do PT ao Planalto, por sua vez, subiu oito pontos e cresceu de 11% para 19% entre os sulistas.
Rejeição
Bolsonaro tem um índice de rejeição consistente, de 46%; enquanto Haddad, junto com os votos e o fervor por Lula, está herdando também o ódio que o ex-presidente desperta em amplas camadas da população, com 29% dos eleitores dizendo que nunca votariam nele.
Em um segundo turno, em 28 de outubro, Bolsonaro e Haddad ficariam empatados, com 40% das intenções de voto cada, 15% de votos brancos e nulos e 5% de indecisos, detalha o Ibope.
“O fato de serem opções com tanta rejeição tem sérias consequências para o país. Traz um problema de legitimidade ao próximo governo, o que dificultará a aplicação da agenda de reformas, e significa que, seja quem for o ganhador, terá muita resistência no Congresso”, explica Thomaz Favaro, analista da consultora de riscos Control Risk.
O duelo entre centro direita e esquerda foi visto praticamente em todas as eleições desde a redemocratização, em 1985, encarnado a partir de 1994 pelo PSDB, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e pelo PT.
O PT parecia condenado a sair da história após o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e da prisão em abril de Lula, condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
Para Favaro, “o PT conseguiu, no entanto, se reconstruir desde o impeachment, capitalizando um discurso de vitimização e se opondo às reformas impopulares atuais do presidente (Michel) Temer”, com uma estratégia elaborada pelo próprio Lula de sua cela em Curitiba.
Bolsonaro, por sua vez, anima seus partidários com “seu discurso antiestablishment, que captar uma parte do eleitorado que vê os partidos políticos tradicionais com descrédito, e o seu discurso da linha dura contra o crime”, aponta Favaro.
“A linguagem conciliadora da direita tradicional (PSDB e DEM) e do centro pragmático (MDB) perdeu qualquer apelo popular”, disse Lincoln Secco, analista e historiador da USP.
Diário do Nordeste