Várzea Alegre

Incêndio no Queixada

Um incêndio de grandes proporções que já dura três dias tem levado preocupação aos moradores do sítio Queixada. Segundo o jornalista Jurani Clentino, filho natural da comunidade, residente na Paraíba, o incêndio ameaça moradores de lá e de comunidades vizinhas. “Autoridades tomem providências, por favor. Os moradores lutam contra as chamas há dois dias, sem sucesso”, disse.

Incêndio Queixada

Esta semana, acompanhei com bastante preocupação o desenrolar de um incêndio, ainda sem precedentes, que durante dois dias deixou um rastro de cinzas e destruição ali no Sítio Queixada e amedrontou as comunidades vizinhas. Trata-se das consequências de um ato irracional provocado pelo ser humano. O fogo teria começado num sítio vizinho, não sei se Umarí ou nas Lagoas de Dentro, depois que um cidadão colocou fogo numa roça, uma espécie de broca e as chamas fugiram do controle. Não deveria ser novidade que com as altas temperaturas e a quantidade de mato seco esse tipo de tragédia viesse ocorrer. Também não é a primeira vez o fogo na mata seca preocupa moradores dali e causa prejuízos. O que falta é um pouco de bom senso e zelo pelo que é seu e principalmente pelo que é do outro.

Atear fogo para limpar uma roça e preparar o terreno para o plantio, embora não seja algo inteligente e ambientalmente recomendável, consiste numa uma prática comum e secular na região da caatinga. Muitas vezes acompanhei de longe, com o coração partido, a serra de São Nicolau ardendo em chamas durante dias. Mas dessa vez o fogo estava muito próximo das casas, tirando o sossego dos moradores, destruindo cercas, queimando o pouco pasto seco que restava, os arames que encontrava pela frente, colocando em risco a vida de animais e pessoas. Soube que um dia antes do fogo ficar incontrolável, agricultores estiveram no local, durante a noite, para conter as chamas, mas no dia seguinte com a força do vento e o calor do sol de meio o pesadelo voltou. Os moradores do sítio Queixada se viram impotentes diante daquela nuvem preta de fumaça que cobriu as serras, dificultou a respiração, poluiu as casas e prejudicou a visão.

Era a triste contemplação indesejada de um inferno ali, bem no oitao de casa. Quem por ventura não estava em seus lares foi chamado às pressas. Uma profusão de vídeos e fotos circulou com a mesma rapidez do fogo pelas redes sociais. De perto e de longe todos lamentaram o ocorrido. Resta saber se há responsável ou responsáveis pelo ocorrido. Se existe algum órgão que possa investigar a origem daquele incêndio e se haverá punição. As pessoas têm que pensar mais no bem coletivo. Não se destrói assim do nada e por nada. Além das perdas materiais dos proprietários de terra, quantos animais silvestres não devem ter sido prejudicados. Quantas árvores destruídas deverão levar anos e anos para ser recuperadas. Quantas cercas precisarão ser refeitas.

Percebo que há uma grande preocupação em coibir a prisão de aves em gaiolas, multas e até apreensão de pessoas que criam pássaros em casa. Não quero subestimar este ou qualquer outro tipo de crime, mas será que este incêndio também não deveria ser rigorosamente investigado e os culpados severamente punidos? Hoje deixei de falar sobre as memórias do passado para mencionar esse descaso e essa irresponsabilidade para com a nossa história, a nossa memória e os nossos recursos naturais tão sofridos. Quando o filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre afirmou que o inferno são os outros ele queria dizer que atribuímos as nossas falhas, as nossas fraquezas e as nossas derrotas a uma terceira pessoa. Jamais assumimos a culpa pelos nossos erros. Já tá mais do que na hora de pensar um pouco mais sobre nossos atos e nas consequências deles. Viver é um exercício coletivo. Não se queima irresponsavelmente uma roça, uma broca ou qualquer coivara que seja, em pleno novembro seco, às três horas da tarde, sem tomar as devidas precauções e sem a mínima noção do que possa acontecer. Que esses órgãos ambientais visitem as comunidades atingidas, seria no mínimo, uma experiência didática…

Jurani Clementino

Campina Grande – quarta-feira 14 de novembro de 2018