Inflação fecha 2017 abaixo do piso, pela primeira vez, com 2,95%
A inflação encerrou o ano de 2017 em 2,95%, segundo divulgou, ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, o índice ficou abaixo do piso da meta do Banco Central (BC), de 4,5% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Será a primeira vez que ocorre tal situação desde que foi criado o sistema de metas de inflação, em 1999.
Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), publicada em 12 de dezembro do ano passado, o BC culpou os alimentos pelo desvio da meta. O resultado acumulado do ano foi o mais baixo desde 1998. Foi também a primeira vez, desde 1999, que a inflação no ano ficou abaixo do piso da meta do governo, de 3%.
O descumprimento da meta em 2017 já era esperado pelo mercado. Com o resultado, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, enviou uma carta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, explicando por que a inflação não ficou dentro do estipulado. “Parte do regime de metas para a inflação no Brasil, a carta aberta é um instrumento pelo qual o Banco Central presta contas à sociedade sobre o cumprimento das metas fixadas pelo CMN [Conselho Monetário Nacional]”, afirmou a instituição, em nota.
Entre os efeitos econômicos da inflação baixa, estão maior poder de compra da população e possibilidade de redução da taxa de juros. Segundo o IBGE, foi o setor de alimentos e bebidas, que compõem cerca de 25% das despesas das famílias, o que mais contribuiu para que o IPCA ficasse abaixo da meta. Os alimentos recuaram 4,85% em 2017, com destaque para as frutas (-16,52%), que tiveram o maior impacto negativo (-0,19 p.p.) no índice geral.
Fatores
Segundo o gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor, Fernando Gonçalves, a queda do preço dos alimentos foi consequência da produção agrícola, que teve uma safra cerca de 30% superior a 2016. “Essa situação levou o consumidor a pagar mais barato (-1,87%) do que no ano anterior. É a primeira vez que o grupo apresenta deflação desde a implementação do Plano Real”, diz Gonçalves.
Ainda segundo o IBGE, a queda nos preços dos alimentos ocorreu principalmente por conta dos alimentos para consumo em casa. “Com 15,67% de peso [no índice], estes alimentos caíram 4,85%, enquanto a alimentação consumida fora de casa, que pesa 8,88%, subiu 3,83%”, afirmou o órgão. A queda dos preços dos alimentos compensou as altas recentes dos chamados preços administrados, que são aqueles cujos reajustes são definidos por governos, como gasolina e energia elétrica. Segundo o IBGE, sete das dez maiores altas do IPCA foram em produtos e serviços de preços administrados.
Segundo Gonçalves, há expectativa de que a safra deste ano seja um pouco menor do que a observada em 2017. “Os preços estão voltando a se realinhar, a economia está começando a voltar, assim como os empregos. Os indicadores estão voltando a patamares normais”, disse Gonçalves. Para 2018, a expectativa de analistas é que a inflação continue sob controle.
Altas
Enquanto alimentos caíram, outros itens mostraram altas. Os que mais influenciaram o aumento da inflação foram habitação (6,26%), saúde e cuidados pessoais (6,52%) e transportes (4,10%). “Na habitação, as principais influências da alta vieram de produtos como o gás de botijão (16%), a taxa de água e esgoto (10,52%) e a energia elétrica (10,35%)”, informou o IBGE, que atribui a situação, em parte, ao reajuste de 84,31% nas refinarias, que contribuiu para o aumento no preço do gás de cozinha vendido em botijões de 13 quilos.
O setor de saúde e cuidados pessoais foi influenciado pelos planos de saúde, que ficaram 13,53% mais caros, e dos remédios (4,44% de aumento). A gasolina subiu 10,32%, contribuindo para a inflação dos transportes. Em 2017, o combustível foi afetado pelo reajuste de PIS/Cofins, além de ter tido 115 reajustes nos preços nas refinarias, com aumento acumulado de 25,49% de 3 julho a 28 de dezembro de 2017 (final da coleta do IPCA de dezembro), dentro da nova política de preços da Petrobras.
Variação mensal
Em dezembro, o IPCA ficou em 0,44%, a maior variação mensal de 2017, principalmente por causa dos alimentos, que subiram 0,54% no período, e dos transportes, com alta de 1,23%. Com a alta de dezembro, os alimentos encerraram sete meses seguidos de queda. O IBGE atribui a variação à alimentação consumida em casa, com alta de 0,42%. “Apesar de alguns produtos terem caído de preços, como o feijão-carioca (-6,73%) e o leite longa vida (-1,43%), outros, também importantes na mesa dos brasileiros, exerceram pressão contrária, como as carnes (1,67%), as frutas (1,33%), o frango inteiro (2,04%) e o pão francês (0,67%)”, afirmou o órgão. A alimentação fora de casa subiu 0,74% no mês. Passagens aéreas também ficaram mais caras, com alta de 22,28%, e o litro da gasolina subiu 2,26%. “Juntos, com impacto de 0,18 p.p., estes dois itens representaram 41% do IPCA de dezembro”, disse o IBGE. O grupo habitação ficou 0,4% mais barato, com impacto para baixo por conta da redução de 3,09% na conta de luz. No mesmo grupo, porém, houve alta de 1,09% no botijão de gás.
Fortaleza detém a quarta maior taxa do País
O IPCA de dezembro para Região Metropolitana de Fortaleza ficou em 0,54%, 0,70 ponto percentual (p.p.) acima do resultado de novembro (-0,16%), sendo a quarta maior alta do País, ao lado do Rio de Janeiro. O acumulado no ano fechou em 2,27%, acima do verificado entre janeiro e novembro (1,72%), embora bem menor do que os 8,34% acumulados em igual mês do ano de 2016. O acumulado dos últimos 12 meses (2,27%) ficou abaixo dos 2,34% do acumulado de 12 meses em novembro. Em dezembro de 2016, o IPCA foi de 0,60%.
Para a RMF, a maior variação de preços, em dezembro, foi registrada em passagens aéreas, que saltaram 32,34%. Em seguida, a banana prata aparece com um aumento de 11,37%, seguido por uva (9,16%), batata inglesa (8,43%) e ônibus interestadual (5,75%). Entre os grupos que tiveram os maiores aumentos, destacaram-se frutas (5,65%); tubérculos, raízes e legumes (3,3%); e vestuário (1%) – tendência que vinha sendo demonstrada em meses anteriores, puxada por roupa masculina (2,04%). Em menor intensidade, estão educação (0,24%), os artigos de residência (0,26%) e habitação (0,28%). Entre os grupos que tiveram as maiores quedas nos preços, estão hortaliças e verduras (-3,65%), pescados (-1,73%), utensílios e enfeites (-1,16%), energia elétrica residencial (-1,13%). A menor perda se deu no grupo comunicação (-0,09).
No período de janeiro a dezembro de 2017, considerando as categorias que mais subiram, em Fortaleza, foram plano de saúde (13,61%) – que teve reajuste de até 13,55% autorizados pelo Governo Federal a planos individuais, em maio –; transporte público (13,50%), combustíveis domésticos (12,16%) – unicamente motivado pela alta do gás de cozinha (botijão) –, e serviços de saúde (11,69%). Já entre as menores variações estão pescados (1,61%; fumo (1,17%); bebidas e infusões (0,9%); artigos de limpeza (0,68%); e comunicação (0,38%).
O Estado