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‘Lula avalizou propina de R$ 300 mi da Odebrecht

Curitiba. Em depoimento realizado, ontem, ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava-Jato na primeira instância, o ex-ministro Antonio Palocci incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele disse que o líder petista avalizou um “pacto de sangue” no qual a Odebrecht se comprometeu a pagar R$ 300 milhões em propinas ao PT entre o final do governo Lula e os primeiros anos do governo Dilma.

O ex-ministro da Fazenda afirmou que a relação entre a Odebrecht e os governos de Lula e Dilma era movida à propina. “Bastante movida a vantagens dirigidas a empresa, a propinas pagas pela Odebrecht a agentes públicos, em forma de doação de campanha, benefícios pessoais, Caixa 1, Caixa 2”, disse.

O ex-ministro foi ouvido na ação em que Lula é acusado de ter recebido da Odebrecht um terreno de R$ 12,4 milhões, destinado a ser a nova sede do Instituto Lula (negócio que acabou não se concretizando), e um apartamento de R$ 540 mil em São Bernardo do Campo (SP), vizinho ao que o petista mora com a família.

Segundo Palocci, os fatos narrados na denúncia são verdadeiros e dizem respeito só “a um capítulo de um livro um pouco maior” do relacionamento da empresa com governos petistas.

Palocci foi condenado no dia 26 de junho a mais de 12 anos de prisão. Moro concluiu que o ex-ministro ordenou o repasse de US$ 10,2 milhões da Odebrecht ao marqueteiro João Santana por meio de depósitos no exterior. O pagamento consta na planilha “Italiano”, que controlou, segundo a megadelação dos executivos, desembolsos de R$ 133 milhões (dentro um saldo total de R$ 200 milhões) que a empreiteira fez de 2008 a 2014 para atender a pedidos do PT. O montante, segundo a Odebrecht, era parte de um acordo feito entre Marcelo Odebrecht e Palocci, do qual o ex-ministro nega a “paternidade” até hoje.

Defesa

A defesa de Lula afirmou que o depoimento de Palocci é contraditório, carece de provas e almeja um acordo de delação premiada com a Operação Lava-Jato.

Os advogados sustentam que as acusações de Palocci está em desacordo com as informações fornecidas por “testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas”. Essa mesma tese foi defendida pela assessoria de imprensa do Instituto Lula, em nota divulgada na noite de sexta (6). Ambos defendem que as acusações contra Lula são “falsas” e “sem provas”.

O líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP), reagiu, ontem, ao depoimento. Para Zarattini, Palocci não apresentou provas. Ele criticou o sistema de delações premiadas, o qual Palocci negocia. “Nesse sistema que está sendo usado, o cara é condenado a penas altíssimas e aí oferecem a ele uma porta de saída, que é incriminar alguém, de preferência o Lula. Se fizer isso, vai obter redução de pena”.

Ex-integrante do PT, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) avaliou, ontem, que o depoimento de Palocci incriminando Lula indica que o PT se adaptou a tudo que sempre combateu. Para Alencar, Palocci não pode ser acusado de perseguir a própria legenda a qual é filiado.

“O que Palocci começou a dizer indica que o partido, de ideais originais tão transformadores, adaptou-se a tudo o que sempre combateu. Palocci, peça central nos governos Lula e Dilma, não pode ser acusado de perseguir seu partido”, afirmou.

Fonte: Diário do Nordeste