Brasil

Michel Temer diz a aliados que ‘fatos mostraram’ que ele tinha razão

De volta de sua viagem oficial à China, o presidente Michel Temer disse a aliados que “tinha razão” sobre as suspeitas levantadas em relação ao acordo de delação premiada da JBS, em que ele foi acusado de receber propina do grupo empresarial. O relato foi feito pelo ministro Eliseu Padilha (Casa Civil).
“Afinal, os fatos mostraram que eu tinha razão”, afirmou o presidente em conversa com auxiliares, ontem (6), segundo Padilha.
Temer se referia especificamente à participação do ex-procurador Marcello Miller em negociações sobre o acordo da JBS. Há meses, o Palácio do Planalto tenta desqualificar as acusações feitas pela empresa contra o presidente, sob a justificativa de que a ação dos delatores foi direcionada pela equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O governo reforçou esse discurso nos últimos dias, com a revelação da gravação em que os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud afirmaram que Miller estava “afinado” com a JBS enquanto ainda atuava na PGR (Procuradoria-Geral da República) e acertou sua ida para um escritório de advocacia contratado pela empresa.
Assim que foi denunciado por corrupção passiva, em junho, Temer convocou um pronunciamento em que afirmou que Miller “ganhou milhões” ao articular o acordo e insinuou que o próprio procurador-geral se beneficiou desse dinheiro.

“Um assessor muito próximo ao procurador-geral da República, senhor Marcelo Miller, homem de sua mais estrita confiança, (…) abandona o Ministério Público para trabalhar em empresa que faz delação premiada com o procurador-geral. Ganhou milhões em poucos meses”, disse Temer, na ocasião. “Pelas novas leis penais da ilação, poderíamos concluir que, talvez, os milhões não fossem unicamente para o assessor.”

Temer havia adotado uma postura cautelosa quando estouraram as suspeitas sobre a delação da JBS, na segunda-feira (4). Da China, ele pediu que auxiliares adotassem um tom de serenidade em público, mas o governo estimulou políticos aliados a alimentar os ataques ao acordo.
Ao dizer que “tinha razão” em suas afirmações sobre o acordo entre a JBS e a PGR, o presidente fortalece sua estratégia de defesa, em que desqualifica o trabalho de Janot, ataca os benefícios recebidos por Joesley Batista e indica que houve uma armação para que seu nome fosse envolvido em esquemas de corrupção.

Reação
O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), voltou a cobrar esclarecimentos a respeito das delações da JBS, o que classificou como “armação”.
“O que está se pintando, e que precisa ser investigado a fundo, e acho que o Congresso tem que partir para esta investigação, e verificar que tipo de armação foi feita contra o Congresso, contra a classe política, contra a economia brasileira e contra a população”, afirmou.
Homem próximo a Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral) disse que as revelações dos áudios não trazem uma reviravolta no campo jurídico.
“São ações que ocorrem em função de delações, interpretações e vai ser tratado como um problema legal. O advogado dele está acompanhando e, certamente, a justiça sairá vitoriosa no final”, disse Moreira.

Fonte: O Estado