Pequenos negócios
O aumento no desemprego levou à difusão de pequenos negócios do Nordeste ao Sul e influenciou os indicadores relativos às empresas de menor porte criadas, sobretudo, ao longo dos últimos três anos de turbulência econômica. Sem vagas no mercado de trabalho, muitos desempregados encontram no empreendedorismo a opção mais atrativa para investir os recursos decorrentes dos processos de demissões e indenizações.
Assegurar a sobrevivência desses empreendimentos não é missão simples, em face da persistência de obstáculos como a burocracia e a limitação do acesso às linhas de crédito. O setor tem, contudo, evoluído e conseguido transformar a dinâmica da geração de empregos.
Consideram-se pequenos negócios aqueles que possuem entre um e cinco funcionários. Levantamento divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada em 2016, revela que tais empreendimentos são responsáveis por atrair mais da metade dos trabalhadores ativos. Até 2014, eles empregavam 46,2%. Em 2015, o percentual pulou para 48,1% e subiu para 50,1% no ano passado. No Ceará, os números são ainda mais sintomáticos dessa nova dinâmica. Conforme o balanço, dos 2,7 milhões de trabalhadores ativos, 58,7% estão em empresas de pequeno porte.
Ao apostar no trabalho por conta própria, o principal desafio é superar os entraves nos dois primeiros anos de funcionamento da empresa criada. De acordo com diagnóstico do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), 23% fecham as portas nessa fase inicial. Na maioria das vezes, as razões vão desde falhas no planejamento financeiro até a inexistência de qualquer estudo razoável sobre como funciona e quais são as peculiaridades do negócio em que se pretende investir.
Muitos também negligenciam a formalização e ficam sem acesso às linhas de crédito que podem ser decisivas para a manutenção da empresa a médio ou longo prazo. Embora o IBGE traga dado alentador ao apontar, em 2016, crescimento do número de pessoas regularizadas no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), ainda é expressivo o total de novos negócios que ignoram a importância da organização ou optam por não assinar a carteira de trabalho dos seus funcionários. A simplificação do registro de Microempreendedores Individuais (MEIs), após o governo federal editar lei complementar em 2014, tem ajudado a mudar esse cenário.
Quando se formaliza, o profissional autônomo passa a acessar linhas de crédito que possuem, em geral, taxas de juro mais baixas, além de poder contribuir com o INSS. Entre janeiro e maio deste ano, 955,3 mil empresas foram abertas, e 79,2% eram MEIs. Em 2013, segundo o Serasa a parcela ficava em apenas 42%.
Mesmo com a reação das empresas de menor porte, a disparidade delas em relação às grandes companhias ainda é gritante. Para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), isso impacta na produtividade nacional. Apesar de existir uma gama variada de medidas para estimular o desenvolvimento desses pequenos estabelecimentos, elas falham ao não prever a heterogeneidade do mercado. As demandas de uma padaria com quatro funcionários não são as mesmas de um salão de beleza com o mesmo número de trabalhadores. Para serem eficazes, os programas destinados aos pequenos negócios, portanto, precisam considerar a complexidade do setor.
Fonte: Diário do Nordeste