Pontos sujeitos à exploração sexual aumentam 92%
Os pontos vulneráveis à ocorrência de exploração sexual infanto-juvenil nas rodovias federais do Ceará passaram de 14, no levantamento realizado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no biênio em 2013/2014, para 180, em 2017/2018, conforme a pesquisa divulgada, ontem, pela instituição. O crescimento do número de logradouros enquadrados nessa condição nas BRs que cortam o Estado foi de 92%. O mais expressivo dentre os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal no intervalo de tempo avaliado.
A PRF considera como ponto vulnerável os locais situados às margens de estradas, onde, em algum momento, foi verificado: a ocorrência de exploração sexual – que é a mercantilização, por parte de adultos, dos corpos de crianças e adolescentes em troca de vantagens financeiras, favores ou presentes -, casos de tráfico de drogas, atuação do conselho tutelar, episódios de prostituição, presença de caminhoneiros, consumo de bebidas alcoólicas, aglomeração de veículos e a falta de vigilância. A ocorrência desses fatores de modo conjunto, segundo análise da PRF, tornam as áreas suscetíveis ao cometimento deste crime de violência sexual contra crianças e adolescentes.
Com esses 180 pontos detectados pelo policiais rodoviários, em números absolutos, o Ceará ocupa a quinta posição no ranking negativo da PRF, perdendo apenas para os estados do Paraná (229 pontos), Pará (232), Goiás (185) e Minas Gerais (184). A PRF também classifica esses locais conforme o grau dos riscos, sendo divididos em pontos: críticos, com alto risco, com médio risco e baixo risco. Também nesta classificação a condição do Ceará é preocupante. Com 81 logradouros mapeados como críticos, o Estado concentra o maior número de pontos desse tipo, ou seja, locais que possuem a maior possibilidade de ocorrência de exploração sexual de crianças e adolescentes.
Na avaliação por regiões, três delas apresentaram aumento nos índices de vulnerabilidade. O Norte foi o que mais registrou aumento de locais suscetíveis, passando de 160 pontos, no levantamento de 2013/2014, para 404 na pesquisa atual. Já no Nordeste, o cenário passou de 475 pontos para 644 e no Sul foi de 448 pontos para 575.
Explicação
Na análise da PRF, divulgada no documento da pesquisa, o aumento dos locais vulneráveis à exploração sexual nas BRs que cortam o Ceará não está atrelado ao crescimento da vulnerabilidade, mas sim ao maior engajamento da Superintendência PRF no Ceará na detecção desses pontos e a capacitação dos policiais participantes da análise. “Acredita-se que a vulnerabilidade estava lá”, aponta o documento. Segundo a PRF, “o fator humano, o engajamento e o conhecimento ainda influenciam no resultado dos levantamentos”. O Diário do Nordeste contactou a assessoria de comunicação da PRF no Ceará para repercutir o assunto, porém foi informado que o órgão não iria se pronunciar, ontem, sobre o levantamento divulgado em Brasília.
De acordo com a pesquisa, o Ceará também ficou em terceiro lugar dentre as unidades da federação que têm o maior número de municípios com pontos críticos. No Estado, 19 cidades registram locais com essas características. O Diário do Nordeste solicitou à PRF em Brasília o detalhamento destes municípios, bem como a quantidade de locais por grau de risco nas BRs cearenses, mas não obteve resposta até o fechamento da edição.
Características
Dentre os locais registrados, os postos de combustíveis são os classificados como mais vulneráveis, pois dos 2.487 pontos suscetíveis identificados no País, 940 são postos de combustíveis. Os pontos de alimentação, ligados aos postos, com 927 registros são locais “adicionais” para a exploração sexual, de acordo com a pesquisa. Por isso, conforme a PRF, estes devem ser os principais alvos das ações preventivas e de conscientização.
A coleta dos dados desses locais, segundo a PRF, é feita por policiais rodoviários durante as rondas nas rodovias e cadastradas em um aplicativo eletrônico, que contém questões sobre as características encontradas nessas áreas. A partir das respostas inseridas, o próprio programa calcula e subdivide os pontos por nível de criticidade.
Diário do Nordeste