Projeto ‘Ouro Branco’ tenta revitalizar cultura do algodão
Iguatu. Até meados de 1980, o cultivo de algodão herbáceo de sequeiro movimentou a economia no Interior cearense, gerando milhares de empregos e renda no campo. O ataque da praga do bicudo e mudanças nos modelos de financiamento da lavoura resultaram no abandono do plantio. Trinta anos depois, técnicos de empresas de pesquisas e extensão implantam em municípios cearenses o projeto ‘Ouro Branco’ em mais uma tentativa de revitalizar a cultura.
É viável o retorno da cotonicultura? A pergunta divide opiniões. Na região Centro-Sul do Ceará, que já foi um dos maiores centros produtores do sertão nordestino, há em andamento um esforço de instituições técnicas governamentais para sensibilizar produtores rurais.
Neste ano, foram implantadas unidades experimentais nos municípios de Iguatu, Acopiara, Quixeramobim e Senador Pompeu por iniciativa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/Algodão) com sede em Campina Grande, Paraíba, em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce).
A ação decorre do projeto “Ouro Branco”, da Embrapa. Os cultivos serviram de demonstração para os agricultores da região em atividade de dia de campo. “O cultivo do algodão irrigado ou de sequeiro é viável, desde que o produtor implante tecnologias modernas, que são simples e de baixo custo. “É preciso seguir formas modernas e econômicas de produção”, diz o técnico da Embrapa, Dalfran Vale.
Através das áreas experimentais, a expectativa dos técnicos é que ocorra a retomada da produção, com o plantio da cotonicultura em larga escala de variedade resistente a pragas e a herbicidas, modificadas ou não geneticamente, com obtenção de maior produtividade.
Um dos experimentos foi feito em uma área de um hectare no sítio Gameleira, na zona rural de Iguatu. O cultivo foi dividido em dois lotes de meio hectare cada para o cultivo das variedades Aroeira, convencional, e a BRS – 368, que é transgênica.
O algodão foi plantado em terras férteis, nas várzeas do Rio Trussu, o que contribui para o desenvolvimento das plantas. As condições ambientais e o manejo da cultura seguem orientação e experiência da Embrapa. “Todas as etapas de produção tiveram o acompanhamento técnico”, explicou o gerente regional da Ematerce, Joaquim Virgulino Neto.
Até a década de 1980, plantava-se algodão em larga escala, da variedade herbáceo, no sistema de sequeiro (aquele que depende exclusivamente da água da chuva) sem o devido acompanhamento técnico. “Havia alta produção, mas baixa produtividade”, observa Virgulino Neto. “Hoje, com tecnologia, adubação, e chuvas regulares, em condições normais, obtém-se alta produtividade”.
No passado, colhia-se em média 800 quilos por hectare do algodão herbáceo de sequeiro. Atualmente, chega-se a 3000 quilos por hectare, desde que observando as orientações técnicas em cultivo irrigado ou de sequeiro quando ocorrem chuvas regulares e na média. O agrônomo Jaime Uchoa, do escritório local da Ematerce, conta que o cultivo de algodão empregava muita mão de obra no campo e nas indústrias de beneficiamento.
Confiança
A unidade produtiva foi implantada em uma área do médico veterinário da Ematerce, Etevaldo Marques, que mostra confiança com a experiência que vem sendo considerada positiva no plantio experimental. Marques crê na retomada da cotonicultura. Há, no Município de Acopiara, uma usina beneficiadora de algodão que opera com 5% de sua capacidade, e que se propõe a comprar toda a produção da região. Atualmente, uma arroba de algodão, que pesa 15kg, é negociada na usina ao preço de R$ 28,00. Iguatu já chegou a dispor de seis unidades de beneficiamento. Nas cidades de Orós, Cedro, Cariús, Jucás e Várzea Alegre também havia indústria de beneficiamento do algodão, mas hoje somente a lembrança de um período de intensa atividade econômica rural.
Fique por dentro
Semente modificada é mais resistente
A cultivar convencional não é resistente ao ataque de pragas e a herbicidas. Já a semente modificada geneticamente oferece resistência a lagartas e certos tipos de venenos.
A variedade BRS Aroeira, convencional, tem ciclo produtivo médio de 130 dias, no Ceará, e produz em média 3.800 quilos por hectare, com rendimento de fibra de 38%.
A cultivar transgênica BRS 368 tem potencial de produção de 4200 hectares e um ciclo produtivo em média de 150 dias.
O uso de tecnologia implica em aplicação correta de herbicidas, preparo adequado do solo, escolha da semente e controle de praga, por meio de armadilhas, monitoramento e erradicação dos restos de cultura.
Fonte: Diário do Nordeste