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Tasso defende que Aécio renuncie ao comando do PSDB

Brasília. Presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati defendeu, ontem, a renúncia do senador Aécio Neves (PSDB-MG) da presidência do partido. A declaração ocorre um dia após o Senado barrar, por 44 votos a 26, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que impôs o afastamento do mandato e o recolhimento noturno ao senador mineiro.

“Eu acho que é (caso de renúncia). Porque agora ele não tem condições, dentro das circunstâncias que está, de ficar como presidente do partido. E nós precisamos ter uma solução definitiva e não provisória”, disse Tasso.

Aécio está afastado do cargo desde maio, após a divulgação da delação da JBS, que o implica diretamente. Em conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, o tucano pede R$ 2 milhões.

Ele nega que o dinheiro seja propina e diz que foi um pedido de empréstimo para pagar sua defesa na Operação Lava-Jato.

Mesmo afastado da presidência do partido, Aécio continuou a ter influência e conseguiu manter o PSDB na base aliada de Michel Temer. O senador é um dos principais fiadores da sigla do apoio ao peemedebista.

Já Tasso tem dado sinais de que pode ceder à ala que defende a ruptura com Temer, encabeçada pelos autointitulados cabeças-preta, ala mais jovem de deputados tucanos.

Após chegar ao Senado, ele se reuniria com Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), também defensor da saída do PSDB da base.

Apesar de pregar a renúncia de Aécio do comando tucano, Tasso defendeu a votação que derrubou as medidas cautelares contra o colega de partido.

“A decisão da maioria foi mal-interpretada. Ao meu entender, ela dá ao senador Aécio o que ele não teve até agora, que foi o direito de defesa”.

Para Tasso, porém, apesar de poder retomar o mandato parlamentar os problemas de Aécio ainda não acabaram. “Agora, aqui no próprio Senado ele vai ter o Conselho de Ética e vai ter que se defender. Ao mesmo tempo, o julgamento no STF continua. No STF, ele também vai ter o direito de apresentar a sua defesa”, disse o cearense.

Repercussão

Já o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), disse que há um “sentimento” no PSDB para que Aécio deixe a presidência do partido. A declaração de Cunha Lima reforçou o recado de Tasso.

“É um ato unilateral. Mas existe um sentimento no partido de que ele deve formalizar a saída”.

Por sua vez, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) criticou a decisão do Senado. Em viagem oficial em Abu Dhabi nos Emirados Árabes, afirmou que o resultado da votação “dialoga com o corporativismo e a impunidade”. “Um deboche”, cravou.

A bancada do PSDB é formada por 12 senadores, incluindo Aécio. Dos presentes, 10 votaram a favor de Aécio. Apenas Ferraço, fora do País, não votou.

Já o ministro Gilmar Mendes, do STF, chamou de “tempestade em copo d’água” as reações adversas à decisão do Senado. “É uma decisão absolutamente normal. Como se houvesse prisão, o Senado, nos termos da Constituição, teria de se manifestar sobre essa alternativa”, disse.

O ex-presidente Lula afirmou que Aécio, por ter “vendido ódio”, “plantou ódio e está colhendo tempestade”. O petista disse que nas campanhas presidenciais que disputou e perdeu (em 1989, 1994 e 1998) não vendeu “ódio como o Aécio vendeu quando perdeu para a Dilma”. “Vendi paz e amor”.

Já Marina Silva (Rede) criticou a decisão. Ela atacou a união dos partidos que garantiram a manutenção do mandato do tucano, citando o PT e o PSDB. “Nenhuma pessoa no Brasil pode fazer seu julgamento, a não ser os parlamentares, que têm foro privilegiado. Aécio recebeu indulto privilegiado”, disse.

Fonte: Diário do Nordeste