Ceará

Desgaste do partido não está no nome, mas nos seus líderes

MDB é e será o mesmo PMDB, igual a PT, PP, PR e tantos outros, execrados pela sociedade brasileira, em manifestações das mais diversas, pela má conduta de alguns dos seus, principalmente dirigentes e filiados considerados vestais. Antes da efetivação de uma necessária ação enérgica, esses partidos só demonstraram corporativismo, leniência, complacência e, em alguns casos, conivência com os seus investigados ou denunciados nas diversas instâncias do Poder Judiciário, por práticas delituosas incompatíveis com o comportamento de um verdadeiro cidadão.

Uma ação enérgica contra os malfeitores, no âmbito partidário, a partir do “Mensalão” protagonizado por filiados do PT, passando pelos escândalos da Lava-Jato, com lideranças do PP, PR, do PSDB e mais alguns, teria produzido efeito bem mais significativo do que promover mudança de nome da agremiação.

E não vale dizer que investigação e denúncia formal não significam condenação, para justificar a omissão. Não as são, realmente. Mas o verdadeiro homem público, aquele que honra o mandato, não pode ter contra si qualquer suspeita de desvio de conduta, principalmente robustas como foram as conhecidas contra diversos atores da nossa representação política.

Execração

Uma denúncia sobre corrupção feita ao Judiciário contra dirigentes ou expoentes de qualquer agremiação enodoa toda a sigla, mesmo nela existindo pessoas de bem. O PMDB tem vários dos seus principais nomes devendo consideráveis satisfações ao Judiciário, por isso são fundadas as perspectivas de serem levados a cumprirem penas de privação de liberdade, contribuindo para o aumento da população carcerária nacional.

Diferentemente de um passado não tão distante, agora, os peemedebistas, mesmo aqueles excluídos das investigações ou denúncias criminais, correm o risco da execração pública quando se apresentarem publicamente nos palanques das campanhas de 2018.

Os modebristas, como eram chamados os liderados do MDB de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, dos cearenses Mauro Benevides, Paes de Andrade, e tantos outros brasileiros, tinham o respeito nacional, inclusive de integrantes do Movimento Militar de 1964. As restrições registradas eram de ordem ideológica, nunca no campo da moral.

Relaxada

E é exatamente por conta do desvio deles e de muitos outros do universo político nacional, que de há muito o eleitor brasileiro não coloca o partido como o ponto de partida para a escolha do seu candidato. O voto, no nosso País, não une os cidadãos em torno de propostas, não só pelo fato de os pretensos detentores de mandatos eletivos não as possuírem, mas por ter se tornado o ato de votar uma obrigação relaxada ou de satisfação de um interesse imediato ligado à pecúnia ou o equivalente. E não há perspectiva de mudança nesse quadro, pelo menos a curto e médio prazos.

Não há Reforma Política capaz de alterar essa realidade partidária no Brasil. O problema está no indivíduo. Na sua falta de espírito público; no seu propósito de entrar na política para tirar proveito e satisfazer suas vaidades pessoais; na inexistência, com raríssima exceção, de agremiações partidárias com programas construídos por segmentos sociais com visão de Estado.

Hoje, infelizmente, até os pouquíssimos jovens, integrantes do grupo da esperança de um Brasil diferente no amanhã, não transmitem confiança, pois estão chegando aos partidos políticos para perpetuação da família na política, pois levados a tiracolo pelos pais ou outros parentes próximos, cheios dos vícios atuais.

Exemplos

A última alteração na legislação eleitoral e partidária, feita neste ano, poderá conter a proliferação de siglas, hoje uma quantidade exagerada, superior a três dezenas, mas em quase nada alterará a atuação libertina da maioria delas, posto ser incapaz de sensibilizar os malfeitores da importância e significação da boa prática política.

Aliás, sequer as denúncias públicas dos crimes e as prisões de corruptos inibem as ações delituosas daqueles. O senador Aécio Neves e alguns outros são exemplos de que nada os fazem buscar o caminho reto, para exercer de forma ética e proba o mandato ou outra função pública.

Mas é pouco o estabelecido com vistas a dificultar a criação de novas agremiações e o funcionamento daquelas com pequeno potencial eleitoral. Estas, geralmente, foram criadas com objetivos diversos daqueles almejados para as consideradas grandes, que é o de alcançar o Poder.

Aquelas, criadas quando bem mais fácil era se constituir uma agremiação partidária, não passam de instrumento de afirmação pessoal do seu dono. Um exemplo delas, o PROS, que chegou a ser a maior força no Ceará, em pouco tempo foi capaz de mostrar a que veio e, por tal razão, logo fez com que os cearenses, liderados pelos irmãos Ciro e Cid Gomes, dela logo se desfiliassem.

O Fundo Partidário e o tempo para as propagandas partidária e eleitoral eram os principais estímulos para a criação de partido. A última Reforma mudou alguma coisa em relação a esses dois pontos, mas não acabou com as negociatas que eles estimulam. O Fundo ainda servirá para garantir recursos aos donos das agremiações e comprar filiações de deputados, assim como o tempo do horário eleitoral continuará servindo para, sob o argumento de coligações, ser vendido aos candidatos a cargos executivos.

E com o financiamento de campanha primordialmente público, outro tipo de recursos, o do Fundo das Eleições, criado com a Reforma, emprestará mais força aos controladores dos partidos, pois com eles ficará a incumbência da distribuição dos valores liberados pela Justiça Eleitoral, para os candidatos em todos os estados onde a agremiação tiver postulantes aos cargos proporcionais e majoritários.

Fonte: Diário do Nordeste